Inhotim: como a arte e a arquitetura podem coexistir e se complementar de maneira natural
- Cinex Arch Goiânia

- 24 de jul.
- 5 min de leitura
Atualizado: 28 de jul.

Inhotim é muito mais do que um museu tradicional – é um santuário a céu aberto onde a arte contemporânea se funde à exuberância da natureza. Cada pavilhão e instalação foi pensado para criar uma experiência verdadeiramente imersiva, em que o visitante se vê rodeado por obras que dialogam dinamicamente com a paisagem. Nesse cenário, exposições e intervenções recentes no Instituto Inhotim têm explorado ao máximo o potencial sensorial do lugar, reforçando o profundo diálogo entre arte, arquitetura e ambiente natural. O resultado são percursos de contemplação e surpresa, que inspiram arquitetos ao mostrar como projetos construídos podem enriquecer e ser enriquecidos pelo entorno.
Arquitetura, paisagismo e integração com a natureza

Em Inhotim, a arquitetura não compete com a arte – ela a complementa e a amplia. Vários pavilhões foram desenhados por arquitetos renomados que tiveram o cuidado de harmonizar forma e paisagem. Um bom exemplo é a Galeria Yayoi Kusama, inaugurada em julho de 2023 pelos escritórios MACh Arquitetos e Rizoma. O projeto inclui 1.437 m² de área em que “a arquitetura e o paisagismo são pensados de forma indissociada”, criando um espaço de transição entre interior e exterior. O teto verde da galeria, coberto por vegetação, vai mudando à medida que as plantas crescem, de modo que os limites do edifício desaparecem gradualmente na floresta de Inhotim.
Outro caso marcante é a Galeria Galpão (Arquitetos Associados, 2009): trata-se de um bloco expositivo monumental, praticamente sem divisões internas, que foi projetado originalmente para abrigar instalações sonoras de grande escala. Hoje ali cabe de tudo, desde obras de menor porte até peças enormes como O Barco (134 blocos de madeira queimados que percorrem 32 metros). A arquitetura enxuta do galpão – seus pilares aparentes, a altura livre, a luz natural medida – permite que esculturas e performances ganhem vida sem obstáculo. Como observa um entusiasta da arquitetura, Inhotim é “um exemplo vivo de como a arquitetura pode transformar um espaço e criar experiências sensoriais profundas”, usando espaços amplos e luz natural para realçar tanto a arte quanto a paisagem circundante.
O jardim botânico, por sua vez, funciona como um elemento construtivo onipresente. O paisagismo idealizado por Roberto Burle Marx e equipe distribui trilhas, espelhos d’água e bosques que se entrelaçam às galerias. Cada caminho leva o visitante a uma nova atmosfera: é possível descobrir plantas nativas e exóticas convivendo com instalações artísticas e pavilhões históricos, em cenários que parecem intocados.
Os jardins não são meramente decorativos; eles aquecem o ar, filtram a luz do sol em réstias brilhosas sobre os pavilhões, enchem o local de sons (o farfalhar das folhas, o canto dos pássaros) e cheiros (a terra molhada, as flores), estimulando todos os sentidos do visitante. Essa abordagem faz do Inhotim mais do que um museu: é quase um organismo vivo, onde cada construção e obra de arte se fundem à topografia e à vegetação.
Novas exposições imersivas e experiências sensoriais
Entre as atrações recentes estão mostras criadas especialmente para o Inhotim, muitas delas de caráter imersivo. Destacam-se por exemplo:
“Apenas depois da chuva” (Rebeca Carapiá): composta por 20 esculturas de ferro e cobre de até 5 metros de altura, esta instalação comissionada é exibida sobre um dos lagos do Inhotim. Nascida de uma imersão da artista na Serra da Capivara (PI), a obra investiga a relação entre água e território, trazendo para o lago desenhos gravados em metal que surgem como marcas efêmeras após a chuva. A natureza circulante (vento, luz, reflexos no espelho d’água) adiciona camadas sensoriais à experiência.
“O Barco | The Boat” (Grada Kilomba): na Galeria Galpão, Kilomba apresenta uma instalação escultórica feita de 134 blocos de madeira queimados que se estendem por 32 metros, desenhando a silhueta do casco de um navio. A obra evoca a “arquitetura dos navios” históricos que carregaram milhões de africanos escravizados, revelando poeticamente as fissuras da memória e da geografia colonial. Para arquitetos, é inspirador ver como o espaço do galpão – um amplo bloco expositivo livre de divisões internas – dá suporte a uma narrativa performática e poética de escala monumental.
“Homo sapiens sapiens” (Pipilotti Rist): esta video-instalação ocupa toda a Galeria Fonte com projeções que inundam o teto de imagens poéticas. O público é convidado a deitar-se em camas, pufes e tapetes enquanto assiste a cenas filmadas nos próprios jardins do Inhotim, acompanhadas de música composta pela própria Rist. Assim, o trabalho transforma o espaço expositivo numa experiência sensorial única, celebrando a conexão entre o indivíduo e o universo.
“Tangolomango” (Rivane Neuenschwander): na Galeria Mata, a grande mostra solo de Rivane reúne vídeos, pinturas e instalações de várias décadas, retrabalhadas em pesquisa recente. A curadoria explica que ela lida com temas como infância, história, ecologia e política. A exposição ocupa uma antiga casa colonial – outro exemplo de arquitetura local – mostrando como as paredes do próprio espaço expositivo se tornam parte da obra. Assim, Tangolomango reforça a ideia de que espaço, paisagem e narrativa se entrelaçam no museu.
“Esconjuro” (Paulo Nazareth): esta intervenção ocupa a Galeria Praça (e outros pontos do parque) ao longo de 18 meses, compondo quatro “estações” (outono, primavera, verão, inverno). A cada estação, pinturas e objetos são trocados, formando um ciclo vivo e mutante. A curadoria define a mostra como “uma presença viva e dinâmica” que propõe “uma conversa simbiótica entre arte e natureza, que reflete território e transitoriedade”. Os visitantes percebem como cada obra dialoga com o solo, os materiais e o clima do Inhotim – o inverno, por exemplo, chegou com as paredes da galeria pintadas de preto (referência ao carvão) para simbolizar transformação e proteção na tradição afro-brasileira.
Além dessas, outras novidades incluem a reabertura da Galeria Claudia Andujar em versão ampliada, agora integrando 22 artistas indígenas sul-americanos para marcar seus 10 anos, e a comissão de esculturas monumentais ao ar livre – como a obra de Lais Myrrha que dialoga com a mineração e o modernismo mineiro, e a instalação no lago de Edgar Calel inspirada na convivência com o território de Brumadinho. Em suma, cada projeto reforça o papel de Inhotim como laboratório sensorial: o museu não exibe arte estática, mas sim experiências que mobilizam visão, audição, tato e até a memória, enriquecendo a sensibilidade de quem transita pelos espaços.

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